Uma descoberta publicada nesta semana no The Astrophysical Journal Letters pode ser o indicativo mais promissor até agora da possível existência de vida fora do Sistema Solar.
Dois gases — o sulfeto de dimetila (DMS) e o dissulfeto de dimetila (DMDS) — foram identificados na atmosfera do exoplaneta K2-18 b pelo Telescópio Espacial James Webb. Na Terra, essas substâncias são produzidas exclusivamente por organismos vivos, principalmente por fitoplâncton marinho e outras formas de vida microbiana.
Apesar da empolgação, os cientistas alertam que a descoberta não representa a confirmação da existência de vida extraterrestre, mas sim a detecção de uma bioassinatura — ou seja, sinais químicos que sugerem a possibilidade de processos biológicos.
Isso confirma a existência de vida?
A presença de DMS e DMDS é considerada altamente sugestiva, pois, com base no conhecimento atual, esses compostos só são produzidos por seres vivos. No entanto, a detecção ainda possui uma margem de incerteza: o telescópio Webb identificou os gases com 99,7% de confiança, o que significa que ainda há uma chance de 0,3% de se tratar de um erro estatístico.
Embora, até agora, não exista uma explicação não biológica para a presença dessas substâncias, os cientistas reconhecem que outras fontes ainda desconhecidas podem existir. Um estudo anterior, publicado em novembro de 2024 no mesmo periódico, detectou DMS em um cometa, sugerindo que esses compostos também podem se formar no espaço a partir de elementos básicos, sem a necessidade de vida.
Ainda assim, esse cenário parece menos provável no caso do K2-18 b, já que a concentração observada dos gases supera em milhares de vezes os níveis encontrados na Terra ou em cometas, ultrapassando 10 partes por milhão por volume.
O que sabemos sobre o K2-18 b?
O exoplaneta K2-18 b tem uma massa cerca de 8,6 vezes maior que a da Terra e um diâmetro aproximadamente 2,6 vezes mais amplo. Ele está localizado a cerca de 124 anos-luz de distância, na constelação de Leão, orbitando uma estrela anã vermelha — menor e menos brilhante que o Sol — dentro da chamada zona habitável, onde pode existir água líquida.
Segundo o astrofísico Nikku Madhusudhan, da Universidade de Cambridge e autor principal do estudo, “o único cenário que explica todos os dados obtidos até agora pelo Telescópio James Webb é o de que o K2-18 b seja um mundo oceânico com condições favoráveis à vida”.
Esses chamados mundos oceânicos seriam planetas cobertos por vastos oceanos de água líquida e envoltos por uma atmosfera rica em hidrogênio. Em ambientes assim, poderia prosperar vida microbiana semelhante à que existe nos oceanos da Terra.
Quando questionado sobre a possibilidade de formas de vida mais complexas, como organismos multicelulares ou até mesmo seres inteligentes, Madhusudhan foi cauteloso: “Neste estágio, só podemos supor a existência de vida microbiana simples”.
Próximos passos
Embora a descoberta seja animadora, os cientistas destacam que muitos estudos ainda serão necessários para confirmar se essas bioassinaturas representam de fato a presença de vida. A comunidade científica segue investigando — com rigor e cautela — o que pode ser o primeiro grande indício de que não estamos sozinhos no universo.