Introdução
Existe uma diferença muito grande entre uma pesquisa eleitoral e uma enquete no Instagram ou qualquer outra rede social. A pesquisa eleitoral é baseada não somente na ciência política, mas na matemática, na psicologia, na antropologia, na geografia e em muitas outras ciências que, na verdade, formam a ciência política. Enquanto a enquete é uma coleta aleatória e insegura de respostas, muitas vezes dadas por perfis falsos nas redes sociais, a pesquisa eleitoral é um procedimento científico com início, meio e fim baseados na mais rigorosa ciência política.
Uma enquete numa rede social não se iguala a uma pesquisa eleitoral nem mesmo no simples ato de coletar respostas, pois a pesquisa eleitoral segue rígidos procedimentos de amostragem, ou seja, de escolha de uma amostra da população que será entrevistada, visando a uma representatividade significativa daquela população.
Pesquisa eleitoral: amostragem populacional
Desse modo, a pesquisa eleitoral cuidará para que as pessoas entrevistadas não sejam somente as que moram neste ou naquele bairro, não sejam somente pessoas ricas ou somente pessoas pobres. Para isso, são adotados procedimentos rigorosos de estratificação amostral (identificação de características como classe social, renda, escolaridade etc.) antes e depois da
coleta de dados. Se apenas um estrato social (pessoas ricas, por exemplo) for entrevistado, isso ficará claro na divulgação dos resultados.
Por isso há divulgação da popularidade de um candidato, por exemplo, entre os mais ricos ou entre os mais pobres. Acredito que uma enquete não pode detalhar as características de quem a respondeu, não é mesmo? Até porque os perfis falsos dificilmente são denunciados nessas enquetes, ao contrário do trabalho sério das enquetes do Desse Modo, que já desmascarou centenas de perfis falsos que tentavam se utilizar das enquetes do blog.
Pesquisa eleitoral: misto de ciências
Quando se fala em pesquisa eleitoral, se fala de uma ciência – a ciência política. Uma ciência não exata, mas que se apoia numa ciência exata: a matemática.
“A Matemática foi o alfabeto usado por Deus quando escreveu o Universo” (adaptado), disse o astrônomo e físico italiano Galileu Galilei (1564 – 1642).
Quando afirma isso, Galilei dá uma ideia da importância da ciência matemática para o desenvolvimento da humanidade. A matemática é onipresente na nossa vida. É a matemática que está na base de todas as tecnologias usadas por nós – da régua à tela por onde você está lendo esta matéria.
As pesquisas eleitorais são baseadas na estatística – mais especificamente, no estudo matemático das probabilidades. O que se quer saber é qual seria a probabilidade de um grupo de eleitores votarem no candidato X e Y.
Sozinha, a estatística não poderia chegar a uma resposta realista para essa pergunta, pois se trata de um fenômeno humano – o comportamento de votar. Por isso, ela se alia a outra ciência – a psicologia social. A partir dessa parceria, a medição da probabilidade do voto de uma população se torna algo ainda mais rigoroso, pois se passa a incluir fatores psicológicos e psíquicos, ou seja, fenômenos muito mais difíceis de identificar.
Daí a margem de erro que sempre aparece nas pesquisas eleitorais: “dois pontos para mais ou para menos”. Ou seja: mesmo com todo o rigor próprio à pesquisa eleitoral, sempre haverá espaço para mudanças inesperadas no comportamento da população, cujas causas poderão ou não ser identificadas posteriormente. Nós chamamos de “terceiras variáveis” esses fatores
desconhecidos que podem influenciar o voto da população na última hora, na urna – eles podem ser um pneu furado no caminho para a urna, uma crise de ansiedade pouco antes do fechamento das sessões eleitorais etc.
Pesquisa eleitoral tem rigor científico
A pesquisa eleitoral é uma técnica científica.
difícil de fazer, pois segue padrões internacionais de rigor científico, com reavaliação constante dos instrumentos utilizados para coletar e analisar os dados – tradução, retrotradução, atualização, replicação, submissão a comissões técnicas de psicometria etc.
Tudo na pesquisa eleitoral é rigorosamente planejado – a forma de abordar os entrevistados, o horário da entrevista, o número de perguntas, o nível de escolaridade do entrevistado, a ordem na qual as perguntas são feitas etc. O número de pessoas entrevistadas, por exemplo, é cuidadosamente escolhido levando em consideração princípios matemáticos da probabilidade.
“Por vezes, um número menor de entrevistados tende a trazer mais precisão estatística à
pesquisa do que uma maior quantidade de pessoas entrevistadas”, afirmou em aula o meu professor de Estatística Aplicada à Psicologia, o Phd Lucas Cordeiro, professor de Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei.
Pesquisa é ciência – Enquete não é ciência Uma pesquisa eleitoral custa muito caro para ser feita, pois envolve dezenas de profissionais altamente qualificados – estatísticos, psicólogos,
especialistas em tecnologias da informação etc.
Uma enquete pode ser feita por alguém que nem se identifica e não tem o mínimo de credibilidade na comunidade científica nacional e internacional.
Não acredite em enquetes que se dizem pesquisas eleitorais. Pesquisa
eleitoral é ciência e não brincadeira na internet.
As opiniões expressas são de total responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a posição do Desse Modo.
Referências
BATISTA, A. A. V. A matemática nas pesquisas eleitorais e loterias. Portal Caleidoscópio. Endereço não informado. Data não informada. Disponível em: https://portalcaleidoscopio.com.br/a-matematica-nas-pesquisas-eleitorais-eloterias/ . Acesso em 14 de agosto de 2024, 15h24min;
INFOMONEY. Pesquisas eleitorais são confiáveis? Entenda as diferentes metodologias aplicadas pelos institutos. São Paulo: InfoMoney. 06 de novembro de 2022. Disponível em:
https://www.infomoney.com.br/guias/pesquisas-eleitorais/ . Acesso em 14 de
agosto de 2024, 15h14min;
INSTITUTO BRASILEIRO DE PESQUISA E ANÁLISE DE DADOS. Metodologias de pesquisa eleitoral. Brasília: IBPAD. 20 de setembro de 2022. Disponível em: https://ibpad.com.br/politica/metodologias-de-pesquisa-eleitoral/
. Acesso em: 14 de agosto de 2022, 15h32min.